sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bem-aventurado (12)


“ Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor e se compraz nos seus mandamentos” (Sl.112:1).

As palavras podem ter mais de um sentido em seu uso e nos trazer alguma dificuldade quanto ao seu entendimento. Uma delas é o verbo temer e seus derivados. Ao se falar em temer ou temor, nos vem a idéia de medo e pavor. É claro que tais idéias estão ligadas ao temor, mas em nosso texto não se trata deste medo, mas, sim, de respeito e acatamento com reverência.

A beatitude aqui está ligada ao respeito e à reverência para com o Senhor, em obedecê-lo e viver Seus preceitos e mandamentos. O final do verso é claro neste sentido ao dizer: “se compraz em seus mandamentos”. O temor ao Senhor está , pois, ligado ao prazer em obedecer Sua vontade e cumprir Seus mandamentos.

Vê-se, mais uma vez, que a questão não é de falar : “Ah eu sou temente a Deus” e não cumprir a vontade dEle, mas de viver e praticar Seus ensinos e ordenações, porque o Evangelho não é palavrório , mas realização; não é intenção, mas atitude correta.

Pode-se notar que a partir do verso 5 o salmista alinha uma série de ações que evidenciam a bem-aventurança de temer ao Senhor. A relação é clara: se você teme ao Senhor, então é bem-aventurado e isto porque assume as atitudes apontadas no texto integral deste salmo 112. Convido os irmãos a lerem todo o salmo para descobrirem que o temor a Deus não é sentimento , mas prática, ação.

É preciso destacar, no entanto, que a bem-aventurança diante do Senhor, pode custar caro na relação com a estrutura que se opõe ao próprio Deus. A reação do perverso, ou seja, do que não teme a Deus será de revolta e indignação , não se conformando com este modo de ser do piedoso temente a Deus. Não se deixe abater com esta reação. Continue firme, pois a sua justiça haverá de permanecer para sempre, enquanto o desejo do perverso perecerá.

De fato, bem-aventurado aquele(a) que teme ao Senhor. Aleluia.

Rev. Paulo Audebert Delage.

domingo, 23 de novembro de 2008

Bem-aventurado ( 10 )

“Bem-aventurado o homem, Senhor, a quem repreendes” (Sl.94:12)

Pode-se dizer, diante deste texto, que há bem-aventuranças das quais não queremos participar e que não desejamos ter sobre nossa vida. Esta é uma delas. Pensar em bênção associada à repreensão não é comum, principalmente nestes dias de ufania e triunfalismo barato no meio evangélico, onde as dificuldades, lutas, provações e tribulações são vistas como manifestações de falta de fé.

O salmista tem uma visão confrontante com a que se propala hoje em muitos setores religiosos. É preciso coragem para dizer que repreensão é bem-aventurança. É estar na “contra-mão” da moda religiosa, já que esta ensina que é tudo serenidade, alegria, tranquilidade e descanso.

Ser repreendido significa ser admoestado pelo fato de estar fora da direção adequada dada pelo Senhor. O salmista liga a bem-aventurança da repreensão ao ensino da lei (Palavra de Deus) à pessoa. A repreensão faz com que a lei seja aplicada e a correção se verifique. Quem está sem correção (repreensão) encontra-se em uma situação de risco, no mínimo.

O escritor da Carta aos Hebreus faz coro com o salmista e afirma: “que filho há que o pai não corrige?” (Hb.127). Ele entende o privilégio da disciplina ou repreensão para crescimento e amadurecimento em relação ao conhecimento da vontade de Deus. Estar sem repreensão ou sem disciplia signifca estar fora da manifestaçõa graciosa do Senhor: “Se estais sem disciplina ...não sois filhos”(Hb.12:8).

Estes textos bíblicos soam deslocados e desconectados da realidade que nos cerca neste universo religioso do “cor de rosa” e “azul anil”. Não se pode falar em disciplina, repreensão, correção, admoestação pois afasta as pessoas, espanta os “clientes”, já que a ênfase é “vender o produto mais agradável” e de modo atrativo, com palavras doces, pois a vida já é por demais dura.

Ser repreendido pelo Senhor é também expressão de bem-aventurança, pois ficam claros Seu amor e interesse para conosco , a fim de nos levar a conhecer Sua Lei e Vontade, que são sempre o melhor para nós (Rm.12:2). Regozijemo-nos nesta bem-aventurança, mesmo que possa ser duro de suportá-la, pois certamente ela se manifesta para a glória de Deus e nosso maior bem.

Deus nos abençoe.

Rev. Paulo Audebert Delage

Bem-Aventurado ( 11 )


“Bem-aventurados os que guardam a retidão...” (Salmo 106:3)

A expressão de beatitude está no plural, indicando que todos os que assim procedem, estão debaixo de seu alcance. Tal bem-aventurança se vincula ao exercício da retidão ou integridade.

É mister notar que a sequência do verso nos leva a perceber que a retidão não se encontra “solta” ou desvinculada de balizamento, antes sua ligação se faz com o conceito de prática da justiça.

Neste sentido a retidão existe como expressão do exercício da justiça, ou seja, não estar em falta quanto a coisa alguma. A idéia de justiça (sobretudo no Novo Testamento) se liga a uma palavra cujo sentido é de não “haver vazio ou lacuna”. Pode-se ter como exemplo uma parede onde os tijolos são sobrepostos e ligados por argamassa, não ficando nenhum vazio entre eles. Isto é justiça; não ficar faltando nada. Isto é retidão; não ficar desvio nenhum.

Uma das figuras usadas na Bíblia, pelos profetas, era o prumo. Este instrumento serve, até hoje, nas construções para verificar a retidão das paredes, se estão ou não inclinadas ou com desvios. Esta figura se aplica à vida cristã e aponta o fato de que nosso viver não pode ter desvios ou tortuosidades.

Nestes dias de tanta injustiça e falta de retidão, inclusive dos que devem ser exemplos de tais posturas, faz-se imperativo que os cristãos evidenciem a retidão, mais do que falar sobre ela. Não se trata apenas da esfera política, onde ficamos, às vezes, enojados e revoltados com a injustiça e falta de retidão, mas os arraiais religiosos vão se tornando palco de tal forma de comportamento, mesmo no ambiente evangélico-protestante. As vidas duplas com fachada de aparência e ostentação no ambiente da comunidade cristã, no entanto, com desvios e tortuosidades a fazer corar de vergonha a Igreja de Cristo e manchar o Nome do Senhor. Já nos falava o apóstolo Paulo: “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa” (Rm.2:24), citando o profeta Isaías em seu livro de profecias (Is.,52:5).

Sejamos bem-aventurados andando em retidão e justiça, honrando o nome de cristão, ou então, por questão de justiça, deixe de chamar-se cristão.

Deus nos abençoe.

Rev. Paulo Audebert Delage.



domingo, 9 de novembro de 2008

Bem-aventurado ( 8 )

“Bem-aventurado aquele a quem escolhes” ( Salmo 65:4)

Nos limites das regras de interpretação bíblica (hermenêutica), tem-se assentado que os livros poéticos não são adequados para formular e estruturar doutrinas, nem que seja apropriado firmar doutrina em um versículo bíblico isolado do todo. Assim, não se poderia, nem se deveria utilizar este texto para sustentar a doutrina da eleição. Evidentemente que o texto aqui apontado faz referência ao fato de haver uma bem-aventurança grandiosa em relação àquele que é escolhido pelo Senhor.

A Escritura Sagrada fala, em vários e muitos lugares, sobre este aspecto da ação de Deus em escolher, eleger e predestinar, sendo impossível fugir ao fato desta afirmação clara na Bíblia. As interpretações sobre o entendimento do que seja tal escolha ou eleição, podem variar e variam.

Em nosso texto o salmista afirma que é bem-aventurado aquele a quem Deus escolhe. Pode-se ver que é uma ação de Deus a de escolher. É moção de Deus e não fruto do agir do que é abençoado. Não é por ser bem-aventurado que é escolhido, mas torna-se bem-aventurado pelo fato de ser escolhido. É manifestação livre da graciosa vontade do Deus soberano fazer com que seja experimentada por tal pessoa, Sua salvação e a comunhão com Ele.

O texto, na sua sequência, aponta o fato de que tal pessoa foi escolhida e assim aproximada do Senhor, levada à comunhão com Ele, à vivência com o Senhor que a escolheu. A comunhão com Deus, fruto da escolha de Deus, se manifesta no âmbito da habitação de Deus que, no Antigo Testamento, se vinculava mais fortemente ao templo.

A bem-aventurança ocorre, então, pelo fato de ser a pessoa escolhida, aproximada dAquele que a escolheu e levada a assistir (participar) nos átrios (lugar do templo) da habitação de Deus. Escolhido(a) para a salvação, para a comunhão e para o serviço.

Alegremo-nos por este privilégio de sermos bem-aventurados, escolhidos por Ele para esta santa comunhão.

Deus nos abençoe.

Rev. Paulo Audebert Delage.

Bem-aventurado (9)


“Bem-aventurado, Senhor, os que habitam em tua casa” (Salmo 84:4)

No boletim anterior foi lembrada a bem-aventurança daquele a quem o Senhor escolhe. Agora vemos que aquele a quem Deus escolhe tem o privilégio de habitar na “casa do Senhor”.

O salmista usa algumas palavras para expressar o sentido de local de habitação, todas ligadas à idéia de presença do Senhor: tabernáculos, átrios, altares, casa. São palavras distintas que traduzem uma única idéia, ou seja, a de presença do Senhor, lugar onde se pode ter comunhão com o Senhor, por ser lugar onde “Ele habita”.

Claro que após o advento de Cristo e Seus ensinos a noção de lugar de habitação de Deus sofre modificação, e já não se tem mais esta projeção de geografia limitada do sagrado e da presença de Deus. Todos os lugares são sacralizados e se tornam “locus” (local) de adoração e comunhão com Deus.

Ainda que se tenha esta idéia posta no Novo Testamento, deve-se entender que no salmo mencionado, não se pode pensar apenas em lugar físico ou geográfico(templo, Jerusalém, etc), mas em algo mais amplo, abrangente e transcendente. Fala-se de lugar “onde fazer o ninho”, habitar e louvar “perpetuamente”, com forte indicação de permanência e perenidade. Esta idéia não se liga apenas ao tabernáculo (móvel) e ao templo(fixo), mas a algo superior e mais sublime: a habitação de Deus.

De fato bem-aventurados os que habitam em “Tua casa”, pois não se trata do templo, já que ninguém ali habitava, mas apenas entravam e saíam. Trata-se da habitação eterna, na linguagem poética, muito bem posta no salmo 23: “habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”. É sobre isto que o salmista fala: céu.

A beatitude ou bem-aventurança se dá pelo fato de podermos ter certeza de que “habitaremos” para sempre na “casa do Senhor”. Por isso não há lugar mais seguro, mais indicado, mais feliz, mais ditoso, mais precioso e melhor para “fazer seu ninho” ou colocar sua vida, que o “lugar de habitação de Deus”. Isto é possível somente se você receber a Cristo Jesus em Sua vida como seu salvador e senhor, aceitando-O pela fé e o sacrifício que Ele fez na cruz em seu lugar e a seu favor. Que você seja também um bem-aventurado por viver na “casa de Deus”.

Rev. Paulo Audebert Delage.