terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Bem-aventurado ( 18 )


“Bem-aventurado o homem que[...]se guarda de profanar o sábado, e guarda sua mão de cometer algum mal” (Isaías,56:2).

O assunto desta bem-aventurança é a observância (ou não profanação) do sábado. Devemos, antes de mais nada , esclarecer que não se trata aqui do dia apontado no calendário, ao qual se dá o nome de sábado. Há países em que este dia tem outro nome. Trata-se, portanto, do “dia de descanso”, uma vez que a tradução da palavra “sábado” é descanso. Deve-se notar que há referência na Bíblia a “sábados”, ou seja dias de descanso, e de caráter distintivo sacralizante. Havia até mesmo um “ano sabático”, ou seja um ano inteiro de descanso.

No judaismo ainda se mantém a observância de guarda do sétimo dia, para culto e adoração a Javé (Jeová). Também os Adventistas do Sétimo Dia mantêm esta prática e se aferram neste ponto como um dos fundamentais.

A cristandade, de modo geral, busca entender que tal manifestação do Senhor é o estabelecimento de um “tempo sagrado”, em distinção ao profano e secular. Nós reformados seguimos a tradição bíblica-cristã da observância do domingo (significa “do Senhor”), ou o primeiro dia da semana. Claro que o sentido de observância de nossa parte não é o dos judeus em relação ao sábado, já que para nós a salvação não é por guarda de dias ou coisas assim.

Pode-se ver a orientação dos reformadores calvinistas expressa na Confissão de Fé de Westminster capítulo XXI ítens VII e VIII onde se ensina a necessidade de abstinência de práticas “de negócios ordinários” (inclusive recreações) e “ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e de misericórdia”.

De fato, aquele que guarda este descanso é bem-aventurado (ditoso), porque o emprega para adorar e servir, de modo especial, ao Senhor e, também, pelo fato de dar a si mesmo o repouso próprio e necessário como ser humano. A sabedoria de Deus é plena e Ele, que nos criou, sabe que necessitamos de um descanso para restauração de nossa energia, ou haverá um desgaste execessivo de nossa estrutura com a cobrança deste “sobre-uso”. Guardar o descanso não é só religião, é também saúde e ciência.

Seja bem-aventurado observando e guardando um dia de descanso, como preceito e orientação do Senhor, usando-o para a participação no Serviço do Senhor.

Rv. Paulo Audebert Delage.

Bem-aventurado (17)


“Bem-aventurados todos os que nele esperam” ( Isaías,30:18).

O texto do profeta Isaías nos remete a um aspecto recorrente e comum ligado à bem-aventurança: a espera. Quando nos detemos a ler os versos anteriores e posteriores ao 18, é possível perceber que o Senhor está tratando Israel com rigor e disciplina, no propósito de instruir e orientar no retorno à comunhão e relação com Ele.


No verso em foco nota-se o autor afirmar que o próprio Deus espera para ter misericórdia e se detém para se compadecer deles. Este retardo ou adiamento por parte do Senhor é remédio amargo de disciplina curativa. Há, da parte dEle, garantia dada de interferência e ação favorável ao Seu povo, libertando-o do cativeiro em que se encontraria, embora não impedisse a ocorrência do exílio.

Neste sentido o profeta reitera que aqueles que esperam são bem-aventurados. Torna-se difícil esperar neste contexto e ambiente de tanta aflição e angústia. Esta situação é agravada à medida que o tempo vai passando e não há intervenção. Gesta-se no interior da pessoa o adoecimento da alma, fazendo verdadeira a expressão do proverbialista bíblico: “A esperança que se adia faz adoecer o coração...”( Pv.,13:12).

Por vezes sentimo-nos adoentados na alma pelo fato de que a esperança se vai adiando, retardando, afastando. O verso 19 é reforço do Senhor, por meio do profeta, para realentar e reanimar o povo. É preciso manter-se firme na expectativa e esperança da ação libertadora e restauradora do Senhor. São comuns a nós a impaciência e o sentido de urgência. No entanto, o relógio de Deus tem sua própria sincronia e nos leva a entendermos, como o salmista, os rigores do trato do Senhor: “O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica”(Sl.,119:50) e ainda: “Foi-me bom ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.”(Sl.,119:71).

Não desanime, não sucumba, não deixe de esperar no Senhor, pois é desta forma que você continuará sendo bem-aventurado(a).

Seja sobre nós a Sua graça.

Rev. Paulo Audebert Delage.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

BEM-AVENTURADO (16)


“Bem-aventurado o que tem Deus por auxílio...cuja esperança está em Deus” (Salmo 146:5)

Esta é a última expressão de bem-aventurança no livro dos salmos. O final não poderia ser mais estimulante e sugestivo a nós ainda hoje. Dois aspectos de grande importância à vida humana são destacados neste texto: o auxílio e a esperança.

No primeiro vê-se o aspecto do sentimento de proteção, amparo e socorro, que vem satisfazer uma das necessidades básicas do ser humano, a saber: segurança. Nestes tempos trevosos de inseguranças de toda ordem e em todas as esferas, sobretudo no universo físico, seja pela ameaça individual da violência urbana (assaltos, roubos, assassinatos, etc), pela ameaça ambiental com risco de aquecimento global e consequências catastróficas para a humanidade, pela ameaça econômica com risco de um colapso mundial quanto ao desemprego; é privilegiado aquele e aquela que podem desfrutar desta convicção e segurança de ter tal auxílio em Deus. Não se fala em isenção de, mas auxílio em, ou seja, estamos sujeitos a estas formas de agressão, mas neste ambiente estamos debaixo do auxílio e cuidado do Senhor.

Tem-se, no segundo, o sentimento de esperança. Esta (esperança) tem suas raízes fincadas na alma humana. Este sentimento é tão forte que deu motivo a conhecido dito popular: a esperança é a última que morre. De fato, se não se tem esperança, significa ter morrido. Somos movidos a esperança, mais do que sonhos, até porque estes são apenas esperanças que ansiamos sejam concretizadas.


Os pais esperam o nascimento dos filhos, esperam seu crescimento, sua formação, sua formatura, seu trabalho, seu sucesso, sua família, seus filhos. Você e eu esperamos crescer, estudar, formar, constituir família, aposentar, ver e “paparicar” netos, e temos a esperança de morrermos em serena e ditosa velhice. Até no morrer, temos forma de esperança. Feliz e bem-aventurado aquele ou aquela cuja esperança está em Deus.


Todas as esperanças se baseiam e se firmam na esperança maior que está no Senhor. Se esta manifestação de esperança não existe e “se nossa esperança ...se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os seres humanos” (I Co.,15:19).

Louvado seja Deus porque O temos por nosso auxílio e nEle está nossa esperança, fazendo-nos, por isso, bem-aventurados.

O Senhor mantenha sobre nós Sua bênção.

Rv. Paulo Audebert Delage.

BEM-AVENTURADO (15)


“Bem-aventurada a que creu... desde agora todas as gerações me considerarão bem-aventurada.” (Lc 1:45 (a) e 48 (b) )

Neste tempo de celebração natalina permito-me dar este salto nos escritos sobre bem-aventuranças, deixando o livro de Salmos para o Evangelho escrito por Lucas. Embora seja muito grande, tal salto é justificável.

Pode-se observar que a forma masculina usada nas 14 meditações anteriores é substituída pela feminina. Não mais bem-aventurado, mas bem-aventurada. A referência elogiosa é feita a Maria, por sua prima Isabel, e pela própria Maria em relação a si mesma. De fato, o alvo das duas passagens referentes a estas bem-aventuranças é Maria, mãe de nosso Salvador.

A palavra grega usada nos textos apontados é a mesma encontrada em Mateus capítulo 5, onde são apresentadas as bem-aventuranças. Claro está que a diferença se faz no fato de que no texto de Lucas é singular feminino. Neste sentido encontra-se também em Lucas (11:27) outra vez referência a Maria como bem-aventurada. Neste contexto Jesus afirma, em resposta, que bem-aventurado aquele que ouve e guarda a Palavra de Deus. Maria está inserida neste aspecto, uma vez que ouviu e guardou (obedeceu) a Palavra do Senhor, sendo, portanto, bem-aventuda mais uma vez.

Qual ou quais as razões destas afirmações? Algumas serão ressaltadas a seguir:

1ª) Uma entre milhares: Havia centenas e milhares de outras virgens em Israel em iguais condições às de Maria. No entanto, foi ela a escolhida. Isto é distinção inigualável e não pode jamais ser minimizada ou desprezada por quem quer que seja.

2ª) Suas atitudes: Dentre estas destacam-se:

A) Fé: Ela creu na palavra do anjo; na ação de Deus; no cumprimento das promessas; foi vida de fé.
B) Submissão: Aceitou a manifestação da vontade de Deus e sujeitou-se a Seu propósito, mesmo sob risco de sua integridade moral e física.
C) Simplicidade: Ao falar de humildade não se refere ao contraste do orgulho, mas de sua condição ante a face do Senhor e sua condição de vida.
D) Dependência: “Meu Salvador” é expressão significativa e indica sua dependência de Deus quanto à sua redenção, salvação e resgate de sua condição de pecadora como todos os demais seres humanos.

Outras posturas e atitudes poderiam ser apresentadas nesta meditação, com o fito de justificar e fundamentar a merecida, devida e justa designação de Maria como bem-aventurada. Façamos nós protestantes, ainda hoje, coro com todas as gerações passadas e vindouras, neste tempo de Natal e em todos os outros, reconhecendo e honrando a mãe de nosso Salvador, chamando-a: Maria; bem-aventurada.

Deus nos abençoe e ajude.

Rev. Paulo Delage

BEM-AVENTURADO (14)

"Bem-aventurado o povo a quem assim sucede!" Sl 144:15

Pode-se perceber, facilmente, que esta bem-aventurança não se liga a uma pessoa, mas ao conjunto social por elas formado, a saber um povo ou nação. Claro que nossa perspectiva protestante é, essencialmente, individualizante e individualizada. Nossa percepção de social, coletividade ou comunidade é pequena. A relação com Deus (salvação, esperança, fé, etc), está sempre focada no individual. O comunitário, quando ocorre, é apenas o somatório dos individuais.

O salmista apresenta uma figura em que a ênfase da bem-aventurança não é o indivíduo, mas o povo, fugindo à percepção do estreitamento personalístico da beatitude. Nós–povo, não apenas eu–indivíduo. De que fala o escritor? A que se refere? Qual o conteúdo da beatitude? Se lermos apenas o verso 15 (a), não entenderemos. É preciso,portanto, ler os versos anteriores, onde são apresentadas manisfestações de vitória, triunfo e sucesso.

A vida familiar,agrícola-pastoril, comercial e sócio-política são enfatizadas nessas linhas do salmo, como fruto da ação graciosa e misericordiosa do Senhor. De fato, não há como negar que ao povo a que tais circunstâncias sucedem, a graça comum de Deus se manifesta e tal povo pode ser visto como abençoado. Não se trata aqui de pensar que toda esta gente (nação) seja salva. A ênfase é no aspecto sócio-político-econômico, visto aqui como elemento indicativo da ação benfazeja de Deus.

Nós, como igreja, somos alvo dessa bênção, mas desejamos e oramos para que isto se estenda sobre nós brasileiros, na condição de povo. Deus nos abençoe.

Rev. Paulo Delage

Bem-aventurado (13)


"Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho..." (Salmo 119:1)
Diante de nós encontra-se mais uma promessa e ao mesmo tempo um repto ou desafio: a bem-aventurança ligada ao exercício de uma tarefa muito difícil.
O assunto desta beatitude é ser irrepreensível, o que gera em todos nós uma postura de reserva ou retraimento.
É comum ouvirmos de nós mesmos que somos repreensíveis ou, de outro modo, que não somos
irrepreensíveis. Mas, é interessante como nos tomamos de brio quando outra pessoa diz isto de nós e a nós. Nós somos repreensíveis, mas não gostamos de ouvir isto de forma pessoal e direta.

O salmista deixa claro que é bem-aventurado aquele que é irrepreensível em seu caminho, ou seja, em seu viver. A pergunta é esta: quem será alvo desta glória? Não parece uma pergunta de resposta fácil, dada a condição pecaminosa e corrupta da raça humana. Neste sentido absoluto, ninguém pode ser bem-aventurado, já que todos somos pecadores e pecamos.
O que nos resta então? Claro está que a resposta é dada na seqüência do texto: "... que andam na lei do Senhor". Portanto, trata-se de andar em conformidade com a diretriz de Deus, dentro da condição humana da qual participamos na contingência em que nos vemos inseridos. Diante do Senhor sempre seremos repreensíveis, mas ante os homens devemos ser irrepreensíveis por andarmos (vivermos) de conformidade com os ditames da Lei do Senhor.
É grande este desafio de andarmos irrepreensivelmente, mas podemos fazê-lo, pela graça de Deus, diante dos olhos humanos, com um padrão de comportamento e com ética governados pela Palavra de Deus, a Lei do Senhor.
Que não tenhamos do que nos envergonhar diante dos homens quanto ao nosso viver, sendo coroados por Deus com esta bendita declaração: bem-aventurados sois.

Deus assim nos abençoe.

Rev. Paulo Audebert Delage.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bem-aventurado (12)


“ Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor e se compraz nos seus mandamentos” (Sl.112:1).

As palavras podem ter mais de um sentido em seu uso e nos trazer alguma dificuldade quanto ao seu entendimento. Uma delas é o verbo temer e seus derivados. Ao se falar em temer ou temor, nos vem a idéia de medo e pavor. É claro que tais idéias estão ligadas ao temor, mas em nosso texto não se trata deste medo, mas, sim, de respeito e acatamento com reverência.

A beatitude aqui está ligada ao respeito e à reverência para com o Senhor, em obedecê-lo e viver Seus preceitos e mandamentos. O final do verso é claro neste sentido ao dizer: “se compraz em seus mandamentos”. O temor ao Senhor está , pois, ligado ao prazer em obedecer Sua vontade e cumprir Seus mandamentos.

Vê-se, mais uma vez, que a questão não é de falar : “Ah eu sou temente a Deus” e não cumprir a vontade dEle, mas de viver e praticar Seus ensinos e ordenações, porque o Evangelho não é palavrório , mas realização; não é intenção, mas atitude correta.

Pode-se notar que a partir do verso 5 o salmista alinha uma série de ações que evidenciam a bem-aventurança de temer ao Senhor. A relação é clara: se você teme ao Senhor, então é bem-aventurado e isto porque assume as atitudes apontadas no texto integral deste salmo 112. Convido os irmãos a lerem todo o salmo para descobrirem que o temor a Deus não é sentimento , mas prática, ação.

É preciso destacar, no entanto, que a bem-aventurança diante do Senhor, pode custar caro na relação com a estrutura que se opõe ao próprio Deus. A reação do perverso, ou seja, do que não teme a Deus será de revolta e indignação , não se conformando com este modo de ser do piedoso temente a Deus. Não se deixe abater com esta reação. Continue firme, pois a sua justiça haverá de permanecer para sempre, enquanto o desejo do perverso perecerá.

De fato, bem-aventurado aquele(a) que teme ao Senhor. Aleluia.

Rev. Paulo Audebert Delage.