sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

BEM-AVENTURADO (16)


“Bem-aventurado o que tem Deus por auxílio...cuja esperança está em Deus” (Salmo 146:5)

Esta é a última expressão de bem-aventurança no livro dos salmos. O final não poderia ser mais estimulante e sugestivo a nós ainda hoje. Dois aspectos de grande importância à vida humana são destacados neste texto: o auxílio e a esperança.

No primeiro vê-se o aspecto do sentimento de proteção, amparo e socorro, que vem satisfazer uma das necessidades básicas do ser humano, a saber: segurança. Nestes tempos trevosos de inseguranças de toda ordem e em todas as esferas, sobretudo no universo físico, seja pela ameaça individual da violência urbana (assaltos, roubos, assassinatos, etc), pela ameaça ambiental com risco de aquecimento global e consequências catastróficas para a humanidade, pela ameaça econômica com risco de um colapso mundial quanto ao desemprego; é privilegiado aquele e aquela que podem desfrutar desta convicção e segurança de ter tal auxílio em Deus. Não se fala em isenção de, mas auxílio em, ou seja, estamos sujeitos a estas formas de agressão, mas neste ambiente estamos debaixo do auxílio e cuidado do Senhor.

Tem-se, no segundo, o sentimento de esperança. Esta (esperança) tem suas raízes fincadas na alma humana. Este sentimento é tão forte que deu motivo a conhecido dito popular: a esperança é a última que morre. De fato, se não se tem esperança, significa ter morrido. Somos movidos a esperança, mais do que sonhos, até porque estes são apenas esperanças que ansiamos sejam concretizadas.


Os pais esperam o nascimento dos filhos, esperam seu crescimento, sua formação, sua formatura, seu trabalho, seu sucesso, sua família, seus filhos. Você e eu esperamos crescer, estudar, formar, constituir família, aposentar, ver e “paparicar” netos, e temos a esperança de morrermos em serena e ditosa velhice. Até no morrer, temos forma de esperança. Feliz e bem-aventurado aquele ou aquela cuja esperança está em Deus.


Todas as esperanças se baseiam e se firmam na esperança maior que está no Senhor. Se esta manifestação de esperança não existe e “se nossa esperança ...se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os seres humanos” (I Co.,15:19).

Louvado seja Deus porque O temos por nosso auxílio e nEle está nossa esperança, fazendo-nos, por isso, bem-aventurados.

O Senhor mantenha sobre nós Sua bênção.

Rv. Paulo Audebert Delage.

BEM-AVENTURADO (15)


“Bem-aventurada a que creu... desde agora todas as gerações me considerarão bem-aventurada.” (Lc 1:45 (a) e 48 (b) )

Neste tempo de celebração natalina permito-me dar este salto nos escritos sobre bem-aventuranças, deixando o livro de Salmos para o Evangelho escrito por Lucas. Embora seja muito grande, tal salto é justificável.

Pode-se observar que a forma masculina usada nas 14 meditações anteriores é substituída pela feminina. Não mais bem-aventurado, mas bem-aventurada. A referência elogiosa é feita a Maria, por sua prima Isabel, e pela própria Maria em relação a si mesma. De fato, o alvo das duas passagens referentes a estas bem-aventuranças é Maria, mãe de nosso Salvador.

A palavra grega usada nos textos apontados é a mesma encontrada em Mateus capítulo 5, onde são apresentadas as bem-aventuranças. Claro está que a diferença se faz no fato de que no texto de Lucas é singular feminino. Neste sentido encontra-se também em Lucas (11:27) outra vez referência a Maria como bem-aventurada. Neste contexto Jesus afirma, em resposta, que bem-aventurado aquele que ouve e guarda a Palavra de Deus. Maria está inserida neste aspecto, uma vez que ouviu e guardou (obedeceu) a Palavra do Senhor, sendo, portanto, bem-aventuda mais uma vez.

Qual ou quais as razões destas afirmações? Algumas serão ressaltadas a seguir:

1ª) Uma entre milhares: Havia centenas e milhares de outras virgens em Israel em iguais condições às de Maria. No entanto, foi ela a escolhida. Isto é distinção inigualável e não pode jamais ser minimizada ou desprezada por quem quer que seja.

2ª) Suas atitudes: Dentre estas destacam-se:

A) Fé: Ela creu na palavra do anjo; na ação de Deus; no cumprimento das promessas; foi vida de fé.
B) Submissão: Aceitou a manifestação da vontade de Deus e sujeitou-se a Seu propósito, mesmo sob risco de sua integridade moral e física.
C) Simplicidade: Ao falar de humildade não se refere ao contraste do orgulho, mas de sua condição ante a face do Senhor e sua condição de vida.
D) Dependência: “Meu Salvador” é expressão significativa e indica sua dependência de Deus quanto à sua redenção, salvação e resgate de sua condição de pecadora como todos os demais seres humanos.

Outras posturas e atitudes poderiam ser apresentadas nesta meditação, com o fito de justificar e fundamentar a merecida, devida e justa designação de Maria como bem-aventurada. Façamos nós protestantes, ainda hoje, coro com todas as gerações passadas e vindouras, neste tempo de Natal e em todos os outros, reconhecendo e honrando a mãe de nosso Salvador, chamando-a: Maria; bem-aventurada.

Deus nos abençoe e ajude.

Rev. Paulo Delage

BEM-AVENTURADO (14)

"Bem-aventurado o povo a quem assim sucede!" Sl 144:15

Pode-se perceber, facilmente, que esta bem-aventurança não se liga a uma pessoa, mas ao conjunto social por elas formado, a saber um povo ou nação. Claro que nossa perspectiva protestante é, essencialmente, individualizante e individualizada. Nossa percepção de social, coletividade ou comunidade é pequena. A relação com Deus (salvação, esperança, fé, etc), está sempre focada no individual. O comunitário, quando ocorre, é apenas o somatório dos individuais.

O salmista apresenta uma figura em que a ênfase da bem-aventurança não é o indivíduo, mas o povo, fugindo à percepção do estreitamento personalístico da beatitude. Nós–povo, não apenas eu–indivíduo. De que fala o escritor? A que se refere? Qual o conteúdo da beatitude? Se lermos apenas o verso 15 (a), não entenderemos. É preciso,portanto, ler os versos anteriores, onde são apresentadas manisfestações de vitória, triunfo e sucesso.

A vida familiar,agrícola-pastoril, comercial e sócio-política são enfatizadas nessas linhas do salmo, como fruto da ação graciosa e misericordiosa do Senhor. De fato, não há como negar que ao povo a que tais circunstâncias sucedem, a graça comum de Deus se manifesta e tal povo pode ser visto como abençoado. Não se trata aqui de pensar que toda esta gente (nação) seja salva. A ênfase é no aspecto sócio-político-econômico, visto aqui como elemento indicativo da ação benfazeja de Deus.

Nós, como igreja, somos alvo dessa bênção, mas desejamos e oramos para que isto se estenda sobre nós brasileiros, na condição de povo. Deus nos abençoe.

Rev. Paulo Delage

Bem-aventurado (13)


"Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho..." (Salmo 119:1)
Diante de nós encontra-se mais uma promessa e ao mesmo tempo um repto ou desafio: a bem-aventurança ligada ao exercício de uma tarefa muito difícil.
O assunto desta beatitude é ser irrepreensível, o que gera em todos nós uma postura de reserva ou retraimento.
É comum ouvirmos de nós mesmos que somos repreensíveis ou, de outro modo, que não somos
irrepreensíveis. Mas, é interessante como nos tomamos de brio quando outra pessoa diz isto de nós e a nós. Nós somos repreensíveis, mas não gostamos de ouvir isto de forma pessoal e direta.

O salmista deixa claro que é bem-aventurado aquele que é irrepreensível em seu caminho, ou seja, em seu viver. A pergunta é esta: quem será alvo desta glória? Não parece uma pergunta de resposta fácil, dada a condição pecaminosa e corrupta da raça humana. Neste sentido absoluto, ninguém pode ser bem-aventurado, já que todos somos pecadores e pecamos.
O que nos resta então? Claro está que a resposta é dada na seqüência do texto: "... que andam na lei do Senhor". Portanto, trata-se de andar em conformidade com a diretriz de Deus, dentro da condição humana da qual participamos na contingência em que nos vemos inseridos. Diante do Senhor sempre seremos repreensíveis, mas ante os homens devemos ser irrepreensíveis por andarmos (vivermos) de conformidade com os ditames da Lei do Senhor.
É grande este desafio de andarmos irrepreensivelmente, mas podemos fazê-lo, pela graça de Deus, diante dos olhos humanos, com um padrão de comportamento e com ética governados pela Palavra de Deus, a Lei do Senhor.
Que não tenhamos do que nos envergonhar diante dos homens quanto ao nosso viver, sendo coroados por Deus com esta bendita declaração: bem-aventurados sois.

Deus assim nos abençoe.

Rev. Paulo Audebert Delage.